domingo, 21 de fevereiro de 2010

Os músicos de Bremen - Irmãos Grimm

Um homem possuía um burro que o servira durante muitos anos, mas que se achava quase sem forças, imprestável, sem forças nem para puxar uma carroça. Resolveu matá-lo, a fim de aproveitar a pele. Mas o burro, que de burro não tinha nada, percebeu as suas intenções e deliberou fugir para Brêmen.
_ Lá, pensava ele, poderei tornar-me músico.
O burro fugiu e tomou o rumo de Bremen. No meio da viagem encontrou, deitado na estrada, um cachorro já velho, abrindo a boca a todo instante.
_ Por que bocejas tanto?, perguntou-lhe o burro.
_ Ah! Exclamou o cão. Cada dia que se passa, me sinto mais velho e fraco: como não posso correr caça, meu senhor me espancou tanto que me vi obrigado a fugir; e agora estou que não sei onde possa arranjar um pedaço de carne.
_ Pois a minha situação não é lá muito diferente, disse o burro. Vou para Bremen, ser músico. Se quiser, poderá acompanhar-me como tambor de minha banda.
O cachorro aceitou o convite e seguiu atrás do burro. Mais adiante encontraram um gato sentado à beira do caminho, com jeito de quem tivesse levado muitas vassouradas. Perguntando-lhe o burro a razão da tristeza, o bichano respondeu:
_ Como posso estar contente depois de tanta paulada? Já sou velho e me falta agilidade para perseguir um simples camundongo. Por este motivo, minha senhora resolveu afogar-me lagoa. Fugi a tempo, mas agora aqui estou, sem saber o que fazer.
_ Vamos a Bremen. Você é músico noturno e pode muito bem fazer parte de nossa troupe.
O gato acedeu ao convite e seguiu com os dois. Os três vagabundos, depois de muito andar, chegaram a um sítio, onde um galo cantava furiosamente.
_ Por que canta dessa maneira, galo? Perguntou o burro.
_ Quando canto assim é sinal de bom tempo; mas, apesar disso, a dona da casa deu ordem ao cozinheiro que me aprontasse para o jantar. Hoje é dia de festa aqui e, como amanhã estarei morto, resolvi cantar até não poder mais.
_ É melhor que nos acompanhe. Vamos a Bremen para escapar da morte; você tem boa voz e poderá fazer parte da nossa banda.
O galo gostou da idéia, juntou-se ao grupo e os quatro tocaram para a frente. Não podiam, porém, alcançar Bremen no mesmo dia, de modo que de noite pararam numa floresta para dormir.
O burro e o cão deitaram sob uma árvore; o galo e o gato subiram para os galhos, ficando aquele no ponto mais alto. Antes de dormir, porém, o galo pôs-se a olhar em volta e logo descobriu uma luzinha a uma certa distância.
_ Chamando os companheiros, disse-lhes que não deviam estar longe de alguma casa, pois estavam enxergando luz.
_ Se é assim, sigamos para a frente, pois o pasto aqui não é dos melhores, disse o burro.
_ E eu estou sentindo a falta de alguns ossos, falou o cachorro. E os quatro tocaram para onde vinha a luz, a qual foi aos poucos aumentando, aumentando. Por fim, chegaram a uma casa muito bem iluminada, pertencente a uma quadrilha de ladrões.
O burro, sendo o maior, espiou pela janela.
_ Que está vendo? Perguntou o galo.
_ Estou vendo uma mesa cheia de doces, bebidas e bons pratos, com grande número de ladrões em volta.
_ É do que precisamos, acrescentou o galo.
_ Mas como pegar aquilo? Indagou o burro.
Puseram-se todos a estudar o caso e depois de muita discussão imaginaram um meio de afugentar os bandidos. O burro colocou as patas dianteiras sobre a janela, o cão subiu-lhe às costas, o gato encarapitou-se sobre o cão e, por fim, o galo pousou sobre a cabeça do gato. Feito isto, a um sinal do burro, o cão latia, o gato miava, e o galo cantava, tudo a um tempo e em tal tom que os vidros das janelas se partiram, tremeram! Apavorados com o barulho, os ladrões fugiram para a floresta, certos de que se tratava de um bando de almas do outro mundo. Os quatro músicos sentaram-se à mesa e comeram tudo quanto havia, pois estava em jejum de mais de uma semana.
Logo que encheram a barriga, cada qual procurou um lugar para dormir. O burro deitou-se sobre um monte de palha; o cachorro aninhou-se atrás da porta; o gato procurou as cinzas do fogão e o galo empoleirou-se sobre uma viga que atravessava a sala. Cansados como estavam da longa caminhada, logo ferraram no sono.
Lá pela meia-noite, vendo os ladrões as luzes apagadas e tudo em silêncio, o chefe da quadrilha mandou que um dos seus homens fosse investigar a causa da barulhada. Encontrando tudo quieto, o emissário dirigiu-se à cozinha para acender o fogo; e, tomando os olhos do gato por duas brasas, veio assoprá-las. O gato imediatamente atirou-se-lhe ao rosto, arranhando-o todo e fazendo-o fugir apavorado pela porta dos fundos. Mas o cachorro, que ali estava deitado, ferra-lhe uma terrível dentada na perna. O ladrão pula para o monte de palha e lá o burro lhe aplica formidável par de coices. E para aumentar a esfrega, o galo ainda lhe prega uma esporada, cantando depois: Cocoricocó!
O ladrão voltou correndo para junto dos companheiros.
_ Nem por todo dinheiro do mundo porei os pés naquela casa outra vez! Está lá uma bruxa que me arranhou o rosto com suas unhas compridas; junto à porta, um homem de faca afiada, que me corou a perna; logo adiante, um monstro, que me deu formidável bordoada; e, quando ia saindo, além de levar uma espetada na cabeça, ouvia voz do juiz que dizia:
_ Pau nele sem dó!
Ao ouvirem isto, os ladrões não mais ousaram penetrar na casa, de modo que os quatro músicos lá ficaram morando, e lá estão até hoje, muito contentes da vida, a darem boas risadas das peças que pregaram aos antigos moradores.
(Contos de Grimm, trad. e adaptação de MONTEIRO LOBATO;
Editora Brasiliense, São Paulo, 1958).
INTERPRETAÇÃO
l. Por que o dono do burro resolveu matá-lo?
2. Foi graças a ............. que o burro escapou à morte.
3. Por que o cão foi obrigado a fugir?
4. Que faria o cão na banda do burro?
5. O gato estava triste porque:
( ) já era muito velho.
( ) não tinha agilidade para perseguir um simples ratinho.
( ) sua dona queria livrar-se dele.
6. Quem os três vagabundos encontraram a seguir? _______________________________
7. O galo cantava furiosamente, porque:
( ) estava satisfeito da vida.
( ) era dia de festa na casa.
( ) a cozinheira ia aprontá-lo para o jantar.
8. Os donos do burro, do cachorro e do gato queriam livrar-se deles, porque os animais já estavam velhos e imprestáveis. Esta feia atitude mostra que os homens eram:
( ) generosos ( ) engraçados ( ) ingratos ( ) agradecidos ( ) alegres
9. Segundo o burro, o gato era o “músico noturno”. Por quê?
10. Por que os animais pousaram numa floresta?
11. A casa pertencia: ( ) a um fazendeiro rico ( ) à dona do gato ( ) a um bando de gatunos ( ) a ninguém.
12. Que viu o burro quando espiou pela janela da casa?
13. Os nossos heróis imaginaram um meio de afugentar os bandidos, usando de:
( ) violência ( ) astúcia ( ) persuasão ( ) perseverança ( ) coragem
14. Por que os ladrões se apavoraram?
15. O emissário enviado pelo chefe dos ladrões voltou assustadíssimo.
a) Quem era a “bruxa”?
b) Por que o ladrão pensou que o cão fosse um homem de faca afiada?
c) Quem era o “juiz”? Que “disse” ele?
16. Entre os músicos, um se destacou como líder do grupo. Quem era? Justifique a sua escolha.
17. Assinale o provérbio que se adapta à idéia central da história:
( ) O que não mata, engorda ( ) Quem quer vai, quem não quer, manda ( ) O crime não compensa ( ) Nem tudo que reluz é ouro ( ) A união faz a força
18. “Mas o burro, que de burro não tinha nada”... Comente os diferentes sentidos de burro na passagem acima:
a) Mas o burro: ..............................................................................................................................................
b) de burro não tinha nada: ..........................................................................................................................
19. “Poderá acompanhar-me como tambor da minha banda”. Tambor aqui significa:
( ) tocador de tambor. ( ) pele de gato transformada em tambor ( ) o próprio tambor
( ) regente de orquestra ( ) cantor
20. “ Os quatro tocaram para a frente. A expressão grifada significa:
( ) correram muito. ( ) formaram uma banda ( ) começaram a tocar seus instrumentos
( )seguiram caminho. ( ) acompanhavam seus cantos com música.
21. Os quatro companheiros estavam em jejum de mais de uma semana, isto é:
( ) sentiam-se cansados da longa viagem.
( ) alimentavam-se muito bem
( ) há uma semana que não comiam nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário